quarta-feira, outubro 26, 2005

... Viagem de Bicicleta em sonhos matinais...




Acordava estremunhada… brincava com a luz que lhe entrava pela janela. Afastava os raios de sol com as mãos e depois rodava na cama em jeito de bailarina…
Na janela, por entre os reflexos, uma borboleta chamou-lhe a atenção… dançava por entre os traços de luz e depois voou…
Desceu as escadas quatro a quatro na pressa de a encontrar… avistou-a descendo a rua bailando. Seguiu atrás dela sorrindo, deslizando por entre os madrugadores que passeavam na cidade. Sentia o vento da manhã a sussurrar… seguiu-a como quem segue o seu sonho…num gesto alcançou-a.
Parou, e abriu a mão em concha…

segunda-feira, outubro 17, 2005

21 Grams




Quantos sonhos levamos connosco… quantas palavras?...

Rodopiam as imagens dentro do meu pensamento… encontros, acasos e incertezas…momentos que marcam ou que nos passam ao lado…
Perco-me na noite dos sentidos e refugio-me na inércia das acções…espíritos inquietos que vagueiam agitados… quantos sonhos ficaram por sonhar, quantas palavras ficaram por dizer?... e a Terra gira impassível…

“ A Terra girou para nos aproximar, girou à sua volta e em nós, até finalmente nos juntar neste sonho.”

terça-feira, outubro 11, 2005

Cumplices




No fundo da rua ouvia-se a algazarra de cores e gritos de carros apressados. As pessoas esbarravam umas de encontro às outras sem sequer parar, sem sequer olhar. A cidade abatia-se sobre os seus ombros… indiferente.

Afastava-se em silêncio… …A confusão ficou lá fora.

Enfiou as mãos nos bolsos, e aproximou-se…parou, cruzavam olhares tentando descobrir o que vai na alma de cada um…eram cúmplices da mesma forma de estar.

O gesto ficou suspenso … como se estivesse sozinho… no meio de uma rua em movimento… imóvel no tempo...

domingo, outubro 02, 2005

A Banda...




Subiu a rua em correria… com o coração aos pulos, completamente arrebatado. No cruzamento com a estrada da igreja, junto à mercearia da D. Estrudeca amontoavam-se as pessoas…e a canalha dançava alegremente por entre as pernas dos crescidos.
A custo foi furando por entre as gentes até encontrar o candeeiro de iluminação que subiu com a ajuda do Ti Jaime… De cabelo desgrenhado pelo vento, acenava para a Banda que passava… e os seus olhos brilhavam…
O tempo parou, e o seu corpo franzino dançava ao som da música tal e qual uma bandeira hasteada. Olhou para a multidão que se perdia em sorrisos… até o Padre Amílcar, conhecido por ser rezingão bailava no adro.
Ficou a vê-los até virarem a rua em direcção ao Rossio… desceu, e imaginou o melhor atalho para lá chegar…

sábado, outubro 01, 2005

Feira da Ladra...

Levantou-se de manhã, de manhãzinha… levava os bolsos cheios de enganos e desenganos… ilusões. Passo a passo caminhava rompendo a alvorada fria… cerrava as mãos de encontro ao corpo…
Respirou fundo, e decidido colocou sobre a pedra da calçada os seus sonhos… recordações de dias e noites em claro, sorrisos e lágrimas...
Voltou para casa de mãos vazias…
Mas ao deitar-se sentiu alguma coisa. Com as mãos trémulas retirou dos bolsos os sonhos que tinha vendido durante o dia…um pouco amachucados mas ainda brilhantes…
Sorriu-lhes timidamente... tinham andado todo o dia para voltar de novo a casa.
Nessa noite conversou com eles... Entendeu por fim as suas máguas e os seus intuitos... Acordou com um brilhozinho nos olhos..


 

page counters